Neste verão (do hemisfério norte), a Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço (de sigla em inglês NASA) lançará um veículo espacial projetado para coletar amostras da superfície marciana e armazená-las até que possam finalmente ser trazidas de volta à Terra.
Quando as amostras chegarem, de acordo com um ex-cientista da NASA, serão “colocadas em quarentena e tratadas como se fossem o vírus Ebola, até que se prove que são seguras”.
Sua declaração causou uma pequena sensação na mídia, e é compreensível. No meio de uma pandemia, os americanos não estão prontos para outra importada do espaço sideral. Mas, prontos ou não, os EUA e outras nações que viajam no espaço precisam começar a atualizar as medidas de proteção planetária para uma nova era dos voos espaciais.
Nos próximos anos, as iniciativas da NASA em Marte provavelmente serão emuladas por outros países. Ambiciosas empresas espaciais privadas estão ansiosas para seguir com seus próprios robôs (e talvez, finalmente, humanos). Diretrizes de segurança mais claras são essenciais, tanto para proteger a Terra, quanto para garantir que um público cauteloso se sinta confortável com os próximos passos da humanidade no sistema solar.
Ninguém sabe, é claro, se há vida em outro lugar do universo. Mas já em meados da década de 1950, os cientistas estavam pensando em maneiras de impedir que formas de vida alienígenas contaminassem a Terra (e vice-versa). Em 1967, o Tratado do Espaço Exterior codificou um consenso de que os Estados membros deveriam evitar “mudanças adversas no ambiente da Terra resultantes da introdução de matéria extraterrestre”. Quando os astronautas da Apollo 11 retornaram da Lua em 1969, foram imediatamente selados em uma câmara de descontaminação por três semanas, precavendo-se da possibilidade de terem transportado micro-organismos lunares para Houston.
Nos anos seguintes, as diretrizes de proteção planetária foram gradualmente atualizadas. O Comitê de Pesquisa Espacial (ou COSPAR), um grupo de pesquisa global, criou protocolos não vinculativos para vários tipos de missões e solicitou sabiamente que qualquer “entidade replicante não terrestre” – isto é, uma forma de vida – permanecesse contida ao pousar. Na NASA, o Escritório de Proteção Planetária garante que essas e outras diretrizes sejam seguidas ao planejar novas missões.
Mas, embora essas regras funcionassem bem o suficiente quando a NASA estava focada principalmente na proteção de outros planetas, elas se revelaram incompletas ou obsoletas em uma era de missões únicas como o retorno da amostra de Marte. Em 2018, uma revisão da Academia Nacional de Ciências constatou que “não parecia haver uma base científica sólida” para algumas das regras de proteção planetária da agência. E enquanto se prepara para lançar o novo veículo espacial de Marte em julho, a NASA ainda não apresentou políticas sobre como distribuir com segurança todas as amostras devolvidas aos cientistas.
Enquanto isso, as empresas espaciais privadas têm cada vez mais a tecnologia e a ambição de fazer suas próprias visitas à Mars. Elon Musk, fundador da SpaceX, diz que espera enviar uma missão tripulada para lá em 2024. Se a empresa conseguir cumprir esse prazo improvável, poderá evitar completamente os requisitos de proteção planetária. No momento, nenhuma agência federal tem jurisdição para autorizar e supervisionar tal missão. Entre outros problemas, essa lacuna regulatória coloca os EUA fora de conformidade com o Tratado do Espaço Exterior.
Abordar essas questões é essencial, e não apenas para evitar “O Enigma de Andrômeda” na vida real. Por um lado, as medidas adotadas pelos EUA agora serão adaptadas pela COSPAR e se tornarão um padrão global não vinculativo, o que deve ajudar a garantir que essa nova era espacial seja segura. Ao mesmo tempo, um público marcado pelo coronavírus provavelmente desconfia de quaisquer missões espaciais que exijam estratégias de contenção no nível do ebola. Se a NASA e outros astronautas querem garantir às pessoas que não devem se preocupar com o ebola marciano, eles precisam provar que seus esforços de segurança são tão seguros quanto a engenharia.
Para começar, a NASA deve reavaliar suas medidas de proteção planetária à luz dos recentes avanços tecnológicos e garantir que preencham todas as lacunas. Também deve estabelecer um fórum permanente dedicado à atualização dessas políticas, conforme as circunstâncias o justifiquem. A imposição de requisitos de segurança às empresas de espaço privado é uma questão mais complicada que, em última análise, exigirá ação do Congresso. Entretanto, a NASA deve vincular a conformidade da proteção planetária à elegibilidade para contratos federais.
Não há como dizer quando e onde a próxima pandemia surgirá. Mas, com um pouco de cuidado, a NASA e seus parceiros podem garantir que não será extraterrestre.
(Fonte)
Bem, para quem vive dizendo que Marte não tem vida, há muita preocupação quanto a possibilidade de sermos infectados por um vírus marciano. Mas, como sempre, é melhor prevenir do que remediar.
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