Longe de nós derrubarmos a física como um meio efetivo de aprender sobre o Universo, mas ela tem aquele incômodo requisito de ser experimentalmente verificável. Às vezes as perguntas sobre as quais você está se perguntando são tão grandes que você precisa chamar os filósofos para uma opinião. Eles não se incomodam com a especulação. Considere a consciência, por exemplo. Uma vez lhe falamos sobre como ela não existe, outra hora sobre como ela não apenas existe, mas está literalmente em todo lugar, e agora estamos de volta com mais novidades: a consciência pode ser um resultado do distúrbio de identidade dissociativo do Universo.
Fora da frigideira, caindo no Cosmos
Para entender porque alguém diria que o Universo tem um transtorno mental, primeiro você precisa entender um conceito conhecido como panpsiquismo. O panpsiquismo é a crença de que todo pedaço de matéria física tem um elemento de consciência, ou o que poderia ser chamado de ‘protoconsciência’. Basicamente, é uma teoria filosófica que pretende explicar o que é conhecido como o “problema difícil” da consciência: a aparente lacuna entre a realidade física e a realidade como a experimentamos.
No famoso artigo de Thomas Nagel, “What Is It Like to Be a Bat?“ (O que é ser um morcego?), o filósofo explica o problema em uma analogia bem direta. Os maiores quiropterologistas do mundo poderiam ter lido todos os livros sobre a biologia do morcego – eles podem até ter escrito todos esses livros. Mas não importa o quanto eles sabem sobre como os cérebros dos morcegos, asas, sentidos e todo o resto funciona. Eles nunca saberão o que é realmente ser um morcego. Em outras palavras, essa pessoa sabe literalmente tudo sobre a forma física do morcego, mas há algo sobre o morcego que eles não conhecem.
Portanto, a consciência (o ‘como ela é’) existe fora da realidade física.
Mas se a consciência é algo não-físico, então como ela surge dos sistemas físicos e como ela interage com eles? O panpsiquismo tenta responder à primeira questão sugerindo que há uma consciência de fundo, em baixo nível, para todo o Universo. Quando os átomos físicos se organizam em um sistema como um cérebro, suas consciências se combinam em um … de alguma forma. Sim, o problema com a filosofia é que, na maioria das vezes, você acaba jogando suas mãos para cima e dizendo: ‘Tenho certeza de que isso é possível, mas não tenho ideia de como.”
Uma última nota sobre panpsiquismo, que pode parecer muito detalhista, vai realmente revelar-se bastante significativa. A postura oficial do panpsiquismo é que cada partícula individual tem seu próprio campo único de consciência. Mas outra visão similar, chamada cosmopsicismo, sugere que a protoconsciência existe como uma espécie de campo de fundo em toda a realidade física, como o tecido do espaço-tempo. Se você pensa em estruturas cerebrais formando pedaços nesse tecido, isso ajuda a explicar como cada um de nossos cérebros individuais forma unidades singulares. Infelizmente, isso também sugere que estamos todos conectados através do mesmo campo de consciência – e isso sugere que existe PES (Percepção Extra-Sensorial). Você seria duramente pressionado para encontrar um cientista moderno que leva a perspectiva de PES a sério.
Eu, eu mesmo e o Universo
Agora, um novo artigo do cientista, engenheiro da computação e escritor de filosofia Bernardo Kastrup sugere um mecanismo pelo qual nossas consciências únicas e unificadas poderiam ter surgido de um campo unificado de protoconsciência.
Sua inspiração veio de um lugar inesperado: um artigo sobre um paciente com transtorno dissociativo de identidade (TDI) – uma vez chamado de transtorno de personalidade múltipla, ou simplesmente uma personalidade dividida.
Em 2015, médicos alemães examinaram uma paciente com várias identidades diferentes em uma máquina de EEG. No caso dela, algumas dessas identidades eram cegas e, quando estavam no controle, a mulher não conseguia enxergar. Dentro da máquina, os neurologistas viram que seus centros de processamento visual pararam totalmente para os cegos, e começaram a funcionar normalmente quando um alter que podia enxergar retornava.
Escrevendo para a Scientific American, com Adam Crabtree e Edward F. Kelly, Kastrup explicou como esse e outros casos de TDI podem ajudar a explicar a questão fundamental da moderna teoria da consciência.
Sabemos empiricamente que a consciência pode dar origem a muitos centros operacionalmente distintos de experiência simultânea, cada um com sua própria personalidade e senso de identidade. Portanto, se algo análogo ao TDI acontece em um nível universal, a única consciência universal poderia, como resultado, dar origem a muitos alters com vidas internas privadas como a sua e a nossa.
Em outras palavras, todos nós podemos ter personalidades distintas, porque cada um de nós é uma das personalidades distintas do Universo, separadas e concorrentes.
Além do mais, pode-se dizer que essas diferentes personalidades se parecem de uma certa maneira. Um médico com o equipamento adequado pode identificar quando uma personalidade ou outra está no controle, lendo um gráfico. Assim, TDI também pode apontar para o modo como as personalidades conscientes confiam em sistemas físicos – se é assim que um cérebro é organizado ou a existência de um cérebro.
(Fonte)
Se este for realmente o caso, as implicações quanto à vida alienígena podem ser estarrecedoras. Seríamos todos um?
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