Então, o que aconteceria se nos deparássemos com os alienígenas?
Seth Shostak, astrônomo sênior do Instituto SETI, escreveu o artigo abaixo, despertado pelo simpósio que ocorreu em setembro de 2014, o qual tratava, entre outras questões, a de ‘o que a aconteceria se descobríssemos que não estamos sós no Universo?’
Vale a pena ver de novo:
Se deparamos com a vida que não é desse mundo, nos a explodiremos ou a protegeremos? Que impacto isto teria em nossa sociedade?
Este foi o tópico de um simpósio de dois dias, que ocorreu no John W. Kluge Center da Biblioteca do Congresso (EUA) na semana passada. Várias dezenas de pesquisadores – astrônomos, filósofos, teólogos, biólogos, historiadores e outros especialistas – opinaram sobre o que poderia acontecer se descobríssemos que não estamos sós.
Muita da discussão, não surpreendentemente, foi sobre a descoberta de vida inteligente. Isto despertou um leitmotiv – um tema central – que ocorreu repetitivamente: quando se pensa sobre alienígenas, cuidado com o antropocentrismo. Em outras palavras, não presuma que eles serão similares a nós eticamente, culturalmente, ou cognitivamente.
Bem, é claro, eu posso elaborar mais sobre isso. Eu concordo que tendemos a ver tudo no universo através do prisma de nossas próprias naturezas. Veja que, eu noto que os esquilos no meu jardim parecem fazer a mesma coisa. Eles são terrivelmente esquilo-centricos. Isso assegura que eles irão proceder com atividades que são verdadeiramente importantes (pela maior parte o gerenciamento de nozes). Eu não penso menos deles por este motivo.
Onde este leitmotiv se tornou mais do que um alerta neo-grego contra o excesso de segurança, foi quando ele foi usado para argumentar que o SETI é fatalmente falho. Fomos informados que o nossa caça por alienígenas presume que eles sejam semelhantes a nós. Esse tipo de atitude provincial, foi dito, irá sentenciar o SETI à uma frustração sem fim. Se não pensarmos fora de nossa caixa biológica, fracassaremos na procura de outra companhia no cosmos.
Mas espero um minuto: Isso seria o mesmo que argumentar que as sondas Viking de 1976 – com seus instrumentos complexos para detecção de vida microbiana marciana – eram claramente um início errado, pois eram sensíveis aos metabolismos baseados em carbono; em outras palavras, a vida ‘tal como a conhecemos’. Bem, isso é verdadeiro, mas foi realmente difícil projetar experimentos que eram próprios para encontrar a vida ‘tal como ninguém conhece’.
Na verdade, quando se trata de experimentos do SETI, tentamos não presumir nada sobre a constituição cultural, ética, ou mesmo biológica dos alienígenas. Não presumimos que eles sejam similares a nós. Ao invés disso, presumimos que sua física seja similar à nossa – que eles usam transmissores a rádio ou lasers para enviar informação de seja lá onde estiverem para seja lá aonde eles precisem que ela vá. Isso é não mais antropocêntrico do que presumir que – se os alienígenas usam transporte por sobre o solo – pelo menos parte deste transporte é sobre rodas.
Antropocentrismo é sempre uma fonte de medo irracional, mas dizer que isso poderia debilitar de forma irreversível nossos esforços para encontrar inteligência em outros lugares é certamente disputável. Assim, vamos considerar que os experimentos do SETI não são ‘míopes’, com algumas pessoas afirmam. A grande questão então se torna, o que acontece se captarmos um sinal?
Primeiro, permita-me dispensar a falsa, mas popular ideia de que o público não seria informado. Isso é mais bobo do que o ‘Garibaldo’ [da Vila Sésamo], e facilmente provado ao contrário por uma referência precipitada aos falsos alarmes do SETI. Esta ideia paranóica provavelmente deriva das alegações espalhadas de que há 67 anos algum alienígena impertinente fez um erro de navegação e acidentou a sua nave em Roswell, no Novo México. O fato deste evento não ser o assunto de muita investigação pelos cientistas pesquisadores é muitas vezes explicado como consequência de um acobertamento pelo governo. Os federais não querem que você saiba nada sobre os extraterrestres.
Uma pessoa poderia argumentar sobre a falta de interesse acadêmico em duendes. Talvez o governo irlandês esteja escondendo seus corpos. Eu não acho que isso seja um argumento convincente. Mas eu acho que a noção popular da evidência secreta acende a crença errada de que a detecção do SETI seria acobertada. Ela não será.
De maior relevância ao assunto deste simpósio – preparando para a descoberta – era o que o sinal revelaria? O que poderíamos aprender sobre a construção e cultura dos remetente?
A resposta mais plausível é “não muito”. Bem como o ato de se escutar um ruído de folhagem numa floresta fornece pouca informação preciosa sobre a flora e a fauna que o causa, também um sinal alienígena seria grandemente não informativo, pelo menos primeiramente. Poderiam existir mensagens acompanhantes, mas novos e diferentes instrumentos seriam requeridos para esta descoberta.
O que poderíamos descobrir rapidamente são poucos fatos, pela maior parte astronômicos, como por exemplo: (1) O quão longe fica o sistema solar deles; (2) Que tipo de estrela eles orbitam; (3) O comprimento de seu dia e seu ano.
Poderia ser isto por enquanto. E “por enquanto” significa anos, no mínimo.
Se encontramos seres inteligentes em outros lugares de nossa galáxia, você não seria confrontado rapidamente com problemas filosóficos complexos sobre a compreensão de seu modo de pensar, ou de sua biologia – nem mesmo de saber se eles são biológicos. Você não seria desencaminhado pelo pensamento antropológico, porque haveria pouca informação preciosa sobre o fato deles serem como nós, ou não. Por anos, tudo que seremos capazes de dizer é que há algo lá fora que é, pelo menos tecnologicamente, competente com nós.
Mas é claro, isto ainda é dizer muito.
– Seth Shostak
(Fonte)
Embora eu não concorde com tudo que o ilustre astrônomo Seth Shostak menciona em seu artigo, é importante que fique aqui registrada a ótica de parte da comunidade científica sobre este fascinante assunto.
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