Estaríamos observando a inteligência extraterrestre sem nos dar conta disso?
O seguinte artigo, que foi publicado no site The Huffington Post, pelo antropólogo Cadell Last, propõe algo que é surpreendemente inovador. Quando li a hipótese aqui apresentada, um calafrio subiu pela minha espinha face à possibilidade de que a resposta para o mistério de ainda não termos ‘avistado’ nenhum lar de civilizações alienígenas avançadas poderia estar bem na nossa casa, mas até agora não tivemos a imaginação necessária para percebê-la.
(Para quem não está familiarizado com a Escala de Kardashev para medir a força de uma civilização alienígena, antes de ler o artigo abaixo recomendo que leia sobre a civilização Tipo II da escala, publicado aqui: Escala de Kardashev.)
Abaixo, o artigo com a surpreendente proposta:
A Filosofia e a Física têm um longo e interessante passado, que se estende por toda a história humana. Filósofos têm tido o papel de deduzir logicamente a existência de certos fenômenos físicos que não eram testáveis. Cientistas físicos, ou têm empiricamente confirmado, ou têm recusado as especulações filosóficas propostas, quando a tecnologia necessária e/ou os métodos são desenvolvidos.
Algumas vezes as especulações filosóficas falharam ao descrever a natureza da realidade, como a antiga proposta grega de que os céus eram compostos de um quinto elemento: Éter. Porém, em várias ocasiões, as especulações filosóficas eram bem corretas. For exemplo, no Século IV A.C., o filósofo Demócrito deduziu que o universo era composto de unidades indivisíveis de matéria, conhecidas como ‘átomos’. Esta crença foi substanciada dois mil anos mais tarde pelo físico teórico Albert Einstein.
Uma parceria acadêmica similarmente impressionante se manifestou quando o filósofo da Renascença, Giordano Bruno, leu o livro ‘Sobre as Revoluções das Esferas Celestes’ (trad. livre n3m3), do astrônomo Nicolau Copérnico. Bruno achou o modelo heliocêntrico de Copérnico um tremendo avanço e logicamente deduziu que todas as estrelas da noite eram fundamentalmente similares ao nosso Sol, e que elas tinham mundos gravitando aos seus redores. Ele declarou:
“Este espaço, declaramos ser infinito, já que nem a razão, conveniência, possibilidade, percepção de senso, nem natureza dá a ele um limite. Dentro dele há uma infinidade de mundos dos mesmo tipo como o nosso próprio.”
É claro, sabemos agora que Bruno estava mais ou menos certo. A maioria das estrela parece possuir pelo menos um exoplaneta.
No mundo moderno, alguns acreditam que este relacionamento antigo entre filosofia e a física está morto, ou morrendo, ou funcionalmente redundante. Mas eu certamente não concordo. Na semana passada tive a chance de conhecer o filósofo (e teórico de sistemas) Clément Vidal (@clemvidal). Vidal apontou que há certos sistemas estelares binários que os astrofísicos têm dificuldades de explicar através dos modelos convencionais de astrofísica. Estes binários são estrelas semi-descoladas que exibem um fluxo de energia irregular, mas não fora de controle. Vidal argumenta que ao invés de um modelo de astrofísica, precisamos de um modelo astrobiológico para descrever estes estranhos sistemas.
Em essência, Vidal está alegando que estes sistemas não sejam estrelas binárias típicas, mas sim civilizações que avançaram muito além do Tipo 1 da Escala de Kardashev e agora estão ativamente se alimentando de sua estrela mãe. Ele chama estas civilizações hipotéticas de starivores (ou ‘estrelívoros’ em português). E se ele estiver certo… então há aproximadamente 2.000 estrelívoros conhecidos, só em nossa galáxia.
Certamente esta ideia é digna de atenção científica e verificação empírica. A especulação de Demócrito foi testada após a introdução da teoria especial da relatividade. A especulação de Bruno foi testada quando nossa tecnologia de telescópios melhorou. Haveria algum modelo teórico ou tecnologia que poderíamos usar hoje para validar ou refutar a especulação de Vidal?
Talvez, o teste necessário está relacionado à compreensão da natureza do “metabolismo” das estrelas binárias. O metabolismo é umas das condições fundamentais e necessárias para complexos sistemas vivos, porque ele permite que estes sistemas extraiam e mantenham a ordem do caos não-vivo que os rodeia. Assim, se estes sistemas binários são realmente civilizações inteligentes se alimentando de sua estrela mãe, então deveríamos esperar um grau de controle de fluxo de energia que não pode ser descrito pelas leis da física por si sós.
A ideia pode ser chocante. Nos últimos 50 anos, os cientistas têm estado desapontados pelos dados indicando estarmos sós na Via Láctea. Físicos, como Max Tegmark, chegaram ao cúmulo de afirmar que somos a primeira civilização inteligente a surgir em todo o universo. E ele pode estar certo… mas ele pode estar redondamente enganado também.
Um grande avanço na ciência pode vir das ideias que de primeira mão possam parecer bizarras… ou até mesmo impossíveis. Mas o universo tem também provado ser mais estranho do que imaginávamos. Na minha opinião Clément Vidal chamou a nossa atenção a um fenômeno interessante que nossas teorias não podem descrever de forma completa. Eu recomendo fortemente a leitura da tese de seu Ph.D., a qual discute a possibilidade de ‘estrelívoros’ (Capítulo 9, PDF em inglês aqui). E se você for um pesquisador interessado em testar esta especulação, a comunidade Evo Devo Universe recém anunciou a criação do High Energy Astrobiology Prize (Prêmio Astrobiologia de Alta Energia). A comunidade está interessada em receber um estudo de pesquisa que possa testar positivamente, ou negativamente, a hipótese de civilizações ‘estrelívoras’.
Certamente, esta é uma possibilidade que as mulheres e homens da ciência não devem dar as costas. Se esta hipótese for comprovada positivamente, a cosmologia dará um enorme salto à frente, e talvez então a humanidade, como um todo, ficará prepara para aquilo que dentro de si todos sabem, mas que somente poucos tem a coragem de declarar: Não estamos sós no universo!
n3m3
Fonte: www.huffingtonpost.com