O que o lago recém encontrado em Marte significa para a procura por vida no Planeta Vermelho?
A busca pela vida em Marte ficou muito mais interessante.
Durante décadas, os cientistas analisaram o planeta seco e empoeirado e se concentraram em encontrar regiões onde a vida pudesse ter raízes bilhões de anos atrás, quando o clima marciano era mais quente e úmido. Mas em 25 de julho, pesquisadores anunciaram que haviam detectado sinais de um grande lago de água líquida se escondendo sob grossas camadas de gelo perto do pólo sul do Planeta Vermelho.
Se a existência do lago for confirmada, poderemos encontrar micróbios vivendo em Marte hoje?
Esse relatório altera o cálculo para astrobiólogos que querem proteger qualquer vida extraterrestre existente de ser apagada ou obscurecida por espécies introduzidas da Terra. As sondas enviadas para Marte são limpas com padrões rigorosos para evitar qualquer possível contaminação, mesmo “sem ter nada que você chamaria de lagoa”, diz a astrobióloga Lisa Pratt, diretora de proteção planetária da NASA. “Agora temos um relatório de um possível lago subglacial! Essa é uma grande mudança no tipo de ambiente que estamos tentando proteger.”
Então, como a descoberta do lago muda a busca pela vida em Marte?
As primeiras coisas em primeiro lugar: Poderia alguma coisa realmente viver neste lago?
Seria um território difícil para a maioria dos micróbios terrestres. A vida na Terra preenche todos os nichos que pode encontrar, de cristais das cavernas aos desertos áridos. Mas o limite de baixa temperatura para a maior parte da vida terrestre é de cerca de –40 ° Celsius. A camada de gelo de Marte está em cerca de –68 ° C. “É muito frio, mais frio do que qualquer outro ambiente na Terra, onde acreditamos que a vida pode ser metabolizada ou replicada”, diz Pratt.
O lago parece conter muita água. Mas para a água ser líquida a temperaturas tão frias, deve ser extremamente salgada. “Na Terra, esses tipos de misturas salgadas apresentam desafios significativos aos organismos vivos”, diz o cientista planetário Jim Bell, da Universidade Estadual do Arizona, em Tempe, presidente da Planetary Society.
“Mesmo as bactérias ‘extremófilas’, que podem viver com água altamente salgada, podem não sobreviver”.
Mas os marcianos poderiam morar lá?
“Absolutamente sim”, diz Pratt.
Se a vida surgiu em algum momento do passado mais amistoso em Marte, alguns organismos poderiam ter se adaptado à mudança climática e acabado encontrando a água fria e salgada bastante confortável, diz ela. “Isso para mim parece um refúgio ideal, um lugar onde você poderia simplesmente sair, talvez estar adormecido, e esperar que as condições da superfície melhorem.”
O que há de diferente nesse lago em relação a outros lugares aquáticos onde esperamos encontrar vida, como a lua Encelado de Saturno?
Para os exploradores planetários, Marte tem uma grande vantagem sobre as luas geladas de Saturno e Júpiter: Nós já pousamos lá antes. Chegar a Marte é uma jornada relativamente rápida de cerca de quatro a 11 meses, e a atmosfera do planeta torna o pouso muito mais simples do que nas luas pequenas e sem ar.
A grande questão para a proteção planetária é se o lago de Marte tem algum contato com a superfície. Na lua de Saturno, Encélado e, possivelmente, na lua de Júpiter, Europa, a água líquida de um oceano subterrâneo brota no espaço a partir de rachaduras no gelo. Essas ejeções poderiam tornar a amostragem dos oceanos relativamente simples: uma espaçonave poderia pegar algum spray durante um sobrevoo. Mas o fato de que a água pode sair significa que micróbios invasores podem entrar.
Mesmo que nenhuma espaçonave de Marte tenha pousado perto do lago, as tempestades de poeira globais – como a que está ocorrendo atualmente em Marte – poderiam levar contaminação de qualquer parte do planeta.
‘Então, se [o lago for] real, esperemos que não haja nenhuma passagem para dentro dele’, diz Pratt.
Se não há como entrar ou sair, como podemos ver se alguma coisa mora lá?
Este é o problema.
Para checar o lago em busca de sinais de vida, ‘você precisa perfurar’, diz o cientista planetário Isaac Smith, do Instituto de Ciência Planetária, que fica em Lakewood, Colorado – EUA. Foi assim que cientistas investigaram lagos com menos gelo na Terra, como o lago. Vostok na Antártica, em 2012. Essa equipe alegou,de forma polêmica, que o lago abriga um ecossistema próspero, embora mais tarde os pesquisadores admitissem que as amostras estavam contaminadas com fluido de perfuração.
Perfurar em Marte seria ainda mais tecnicamente desafiador e poderia enfrentar oposição da comunidade científica, como fez a equipe russa. “Como os lagos subglaciais na Antártida, [o lago de Marte] seria considerado um lugar extraordinariamente raro e especial”, diz Pratt. “Espero que haja muita resistência para perfurá-lo.”
Mas se tivermos sorte, pode haver um sinal vindo de cima. Sinais de variações sazonais de metano na atmosfera marciana despertaram o interesse de astrobiólogos como possível sinal de vida microbiana sob a superfície. O ExoMars Trace Gas Orbiter da Agência Espacial Européia, que começou a coletar dados em abril, está em busca de mais metano.
“O ExoMars poderia encontrar uma arma fumegante, por assim dizer”, diz o cientista planetário Roberto Orosei, do Instituto Nacional de Astrofísica, em Bolonha, Itália, que estava na equipe que descobriu o lago. “A associação de água líquida e metano na atmosfera seria uma evidência muito, muito empolgante de algo acontecendo em Marte.”
(Fonte)
Então, a cientista Lisa Pratt defende que exista “muita resistência” para perfurar o lago em Marte. Mas então eu pergunto, qual é o papel da ciência na descoberta de vida extraterrestre: ignorar aquilo que pode provar esta existência, ou encontrar métodos apropriados para encontrá-la?
Este é o tipo de mentalidade que a NASA contrata, para ter sempre a certeza de que a vida extraterrestre nunca será confirmada, pelo menos não pelos seus cientistas.
n3m3