O artigo abaixo foi escrito pela Dra. Diana Walsh Pasulka, Professora e Diretora do Departamento de Filosofia e Religião da Universidade da Carolina do Norte, EUA:
A Igreja Católica é bem conhecida entre os estudiosos da religião pelo seu sincretismo, isto é, sua capacidade de fundir práticas religiosas locais e indígenas, bem como deuses e deusas, com seus próprios santos e devoções. Intencional ou não, essa estratégia é bem-sucedida e há centenas de casos de divindades indígenas que seguem a tradição das práticas religiosas pré-cristãs, ao mesmo tempo em que se fundem com os santos católicos. A Santa Brígida da Irlanda é um bom exemplo desse processo. A santa católica compartilha seu nome com uma deusa celta pré-cristã e seu dia de festa marca a celebração irlandesa da primavera. Como seria o sincretismo católico na era da mídia de massa? Não precisamos procurar mais longe do que o espectro dos OVNIs.
Nos últimos anos, fiquei impressionada com a tendência cultural que denomino de “hermenêutica bíblica-ovnilógica”, mas que poderia ser menos formalmente chamada de uma forma contemporânea de sincretismo cristão. É a fusão de eventos católicos tradicionais, pinturas e cultura material com a crença em OVNIs e extraterrestres. Existem muitos exemplos dessa tendência. Recentemente, vários dos meus alunos que estudavam na Itália escreveram para mim depois de visitarem o Vaticano em Roma e Florença. Eles me enviaram fotografias de várias pinturas da época da Renascença. Uma pintura mostrava o monge italiano São Francisco recebendo os estigmas – as feridas de Cristo, nas palmas das mãos. Nas pinturas as feridas de Cristo foram entregues por uma forma angélica voando do céu e parecendo “zapear” Francisco com feixes de luz. Meus alunos estavam convencidos de que São Francisco foi visitado por um OVNI e que o anjo era um extraterrestre.
Meus alunos e outras interpretações são reforçadas pela cultura popular. Programas de televisão como Alienígenas do Passado presumem que extraterrestres visitaram civilizações humanas e que a arte, particularmente a arte religiosa, revela esses eventos de contato. Por mais tolo que isso possa parecer aos historiadores da tendência predominante e historiadores de arte, que frequentemente apontam que os artistas dessas eras em particular estão apenas usando as convenções de seus dias para transmitir um evento sagrado, há um ponto maior perdido na controvérsia. Como Carl Jung declarou em seu primeiro e único livro sobre “discos voadores”, estamos testemunhando a formação de uma lenda e uma nova linguagem mítica que enquadra o fenômeno aéreo como tecnologia extraterrestre e avançada, em vez de seres angelicais que são mensageiros de Deus. Esta não é menos que uma ocasião importante para o estudo da religião, para não mencionar a prática e crença religiosas. Isto revela uma nova forma de religiosidade, a crença em uma espécie extraterrestre avançada que tem ajudado os humanos a formar a civilização e progredir através da tecnologia. Essas crenças e práticas se manifestam em interpretações de religiões tradicionais que revelam a fusão da tecnologia nos eventos religiosos tradicionais.
Este desenvolvimento não é apenas uma nova forma de sincretismo religioso, é também sem precedentes. Novos movimentos religiosos geralmente adotaram crenças e práticas, bem como deuses e deusas, de tradições religiosas anteriores. Isso ajudou as novas religiões a autorizar suas novas práticas e a levar adiante tradições familiares aos praticantes. O sincretismo religioso OVNI é algo totalmente diferente, no entanto. O conteúdo dessa fusão não é necessariamente uma criação de Deus, como anjos ou santos, mas sim de máquinas. Os contornos específicos dessa nova forma religiosa continuam a ser vistos, mas uma coisa é certa: quando meus alunos e outros vêem uma pintura como a Virgem com o Menino e São João Batista Criança, localizada no Palazzo Vecchio, em Florença, eles notarão o estranho fenômeno aéreo flutuando no céu acima das figuras. Muitos se perguntarão se é um OVNI.
(Fonte)
Nascido numa família extremamente católica, embora agora afastado da religião mas não da espiritualidade (pelo menos estou tentando), posso afirmar que, embora o sincretismo na religião católica seja real, tenho convicção de que não chegará ao ponto de mecanizar a religião, adorando, assim por dizer, coisas que não são espirituais. Assim, discordo em parte com a autora.
Mas, como muitas vezes gosto de deixar claro, posso estar enganado e ficar surpreendido com o que as religiões, não somente a católica, podem permitir na tentativa de manterem seus fiéis.
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