New York Times: Sim, alienígenas têm existido!
O artigo abaixo, escrito por Adam Frank, professor de astrofísica da Universidade de Rochester (EUA), foi publicado em 10 de junho passado no site do jornal The New York Times:
No mês passado, astrônomos da equipe da sonda Kepler anunciaram a descoberta de 1.284 novos planetas, todos orbitando estrelas fora do nosso sistema solar. O número total de tais exoplanetas, confirmados via Kepler e outros métodos, agora está em mais de 3.000.
Isto representa uma revolução em conhecimento planetário. Uma década atrás, mais ou menos, a descoberta de até mesmo um único exoplaneta era uma grande notícia. Não mais. Melhorias na observação astronômica têm nos movido ‘do varejo ao atacado’ na descoberta planetária. Sabemos agora, por exemplo, que toda a estrela no céu provavelmente tem pelo menos um planeta.
Mas planetas são só o começo da história. O que todos querem saber é se quaisquer destes mundos possui alienígenas vivendo neles. O nosso novo conhecimento sobre planetas nos trás mais próximos de respondermos essa questão?
Um pouco, na verdade, sim. Num trabalho publicado na edição de maio de Astrobiology, o astrônomo Woodruff Sulilvan e eu mostramos que, embora não saibamos se civilizações extraterrestre avançadas atualmente existam em nossa galáxia, temos agora informação suficiente para concluir que eles quase que certamente existiam em algum ponto da história cósmica.
Entre os cientistas, a probabilidade da existência de uma sociedade alienígena com a qual possamos contatar é discutida em termos de algo chamado de Equação de Drake. Em 1961, a Academia Nacional de Ciência (EUA) pediu ao astrônomo Frank Drake para ser anfitrião de uma reunião científica sobre a possibilidade de ‘comunicação interestelar’. Já que as chances de contato com a vida alienígena depende da quantidade de civilizações extraterrestres avançadas na galáxia, Drake identificou sete fatores nos quais esse número dependeria, e os incorporou na equação.
O primeiro fator foi o número de estrela formadas a cada ano. O segundo foi a fração de estrelas que tinha planetas. Depois disto veio o número de planetas por estrela que tinham suas órbitas na distância correta de seus sóis para formar a vida (presumindo que a vida requeira água no estado líquido). O próximo fator foi a fração de tais planetas onde a vida realmente começou. Então veio fatores para a fração de planetas que suportam a vida, nos quais civilizações inteligentes e avançadas evoluíram. O fator final era a média de tempo de vida de uma civilização tecnológica.
A equação de Drake não era como a E=mc2 de Einstein. Não era a declaração de uma lei universal. Ela era um mecanismo para abrigar uma discussão organizada, uma forma de compreensão do que precisamos saber para respondermos a questão sobre civilizações alienígenas. Em 1961, somente o primeiro fator – o número de estrelas que nascem a cada ano – era compreendido. E esse nível de ignorância permaneceu vigente até pouco tempo.
É por isso que, historicamente, discussões sobre civilizações extraterrestres sempre acabavam em meras expressões de esperança ou pessimismo. Qual, por exemplo, é a fração de planetas que formam a vida? Otimistas poderiam defender sofisticados modelos biológicos moleculares para argumentarem por uma fração maior. Pessimistas então citariam seus próprios dados científicos para uma fração perto de zero. Mas com somente um exemplo de planeta que contém vida (o nosso), é difícil saber quem está certo.
Ou então, considere a média de tempo de vida de uma civilização. Os humanos têm usado a tecnologia de rádio por aproximadamente 100 anos. O quanto mais de tempo nossa civilização irá durar? Mais mil anos? Mais cem mil? Mais 10 milhões? Se o tempo de vida médio para uma civilização for curto, a galáxia provavelmente está vazia a maior parte do tempo. Porém, com somente um exemplo para se basear, retornamos à guerra entre pessimistas e otimistas.
Mas o nosso novo conhecimento planetário removeu algumas das incertezas deste debate. Três de sete dos componentes da equação de Drake agora são conhecidos. Sabemos sobre o número de estrelas que nascem a cada ano. Sabemos o percentual de estrelas que possuem planetas, que é aproximadamente 100%. E também sabemos que aproximadamente 20 a 25 por cento desses planetas estão no lugar certo para vida se formar. Isto nos coloca numa posição, pela primeira vez, para dizermos algo definitivo sobre as civilizações extraterrestres – se fizermos a pergunta certa.
Num recente trabalho, o Professor Sullivan e eu fizemos isto através da mudança de foco da equação de Drake. Ao invés de perguntarmos quantas civilizações existem atualmente, perguntamos qual a possibilidade da nossa ser a única civilização tecnológica que já existiu. Através desta pergunta, pudemos evitar o fator sobre a média de tempo de vida de uma civilização. Isto nos deixou com somente três fatores desconhecidos, os quais combinamos em uma ‘probabilidade biotécnica: a probabilidade da criação de vida, vida inteligente e capacidade tecnológica.
Você poderia presumir que esta probabilidade seja baixa, e assim as chances permanecem baixas para o surgimento de outra civilização tecnológica. Mas o que os nossos cálculos revelaram é que mesmo se esta probabilidade for presumida de ser extremamente baixa, as chances de não sermos a única civilização tecnológica são na verdade altas. Especificamente, ao menos que a probabilidade para a evolução de um planeta na zona habitável seja menor do que uma em 10 bilhões de trilhões, então não somos os primeiros.
Para dar um contexto para este número: Em discussões anteriores sobre a Equação de Drake, uma probabilidade para civilizações se formarem de uma em 10 bilhões por planeta era considerada altamente pessimista. De acordo com nossas descobertas, mesmo se você ceder a este nível de pessimismo, um trilhão de civilizações ainda teriam aparecido no curso da história cósmica.
Em outras palavras, dado àquilo que agora sabemos sobre o número de posições orbitais dos planetas nas galáxias, o grau de pessimismo requerido para duvidar da existência de uma civilização extraterrestre avançada em algum ponto do tempo estaria próximo do irracional.
Na ciência, um importante passo à frente pode ser a descoberta de uma pergunta que pode ser respondida com dados em mãos. Nosso trabalho fez exatamente isto. Quanto a grande pergunta – se outras civilizações atualmente existem – poderemos ter que esperar por um mais tempo para mais dados relevantes. Mas não devemos subestimar o quão longe avançamos num curto período.
– Adam Frank
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Fonte: nytimes.com
Colaboração: SENAM