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Espaço do Leitor: O que é a vida?

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Segue, texto de nosso leitor João Sampaio:

A constante discussão sobre exoplanetas em “zonas habitáveis”, que podem abrigar vida, inclusive esta última postagem do OH, em 11/03/2015, me levaram a uma reflexão que eu gostaria de compartilhar com vocês.

Nas últimas décadas, várias descobertas estão demonstrando que, cada vez mais, nós estamos longe de definir o que seja VIDA. Não há quem se arrisque em defini-la em conceitos conclusivos e, se há, os argumentos tendem a ser falhos, devido à imensidão de possibilidades que se apresentam.

Se formos para qualquer ambiente natural do nosso planeta, não importa as condições apresentadas, e investigarmos formas de vida, vamos encontrar uma gama imensa de microorganismos que sobrevivem a condições extremas. Se formos para as profundezas da terra, cavando quilômetros, eles estarão lá. Se submergimos nos abismos marinhos, abaixo de 10km, eles também se apresentarão. Sobrevivem a pressões altíssimas, ambientes extremamente ácidos e extremamente básicos. Em fontes hidrotermais, a temperaturas acima de 122ºC, tem vida. Em águas congelantes, abaixo de -20ºC, os bichinhos estão lá, alegres e saltitantes. Há microorganismos que possuem metabolismo baseado em metano, enxofre, ferro. Há bactérias que se alimentam de arsênio! Se formos nos estender, não vai haver espaço para tantos exemplos, inclusive fora de nossa atmosfera, pois já foi comprovado até que alguns organismos sobrevivem ao vácuo do espaço.

Nós estamos engatinhando no conhecimento dos extremófilos. A maior parte dos ambientes intraterrenos, selvagens e subaquáticos ainda não foram explorados e, muito menos, estudados. A estimativa é que 90% da flora microbiana do planeta ainda é desconhecida. À medida que vamos caminhando nestas descobertas, mais atônita fica a ciência, da mesma forma que tem acontecido com a Física, a Biologia está, gradativamente, reavaliando seus conceitos, principalmente em relação à vida.

Hoje a Biologia ainda possui uma visão geocêntrica da vida, concentrando sua atenção na química da água e do carbono, que é a composição que a maior parte da vida da Terra está baseada. Percebam que não é toda a vida na Terra que é baseada em água e carbono, algumas não são!

Nossa tendência natural e histórica ao geocentrismo causa, desde sempre, este tipo de construção de uma falsa verdade, baseada na visão de que nós somos o centro do universo. Hoje já não se discute que a Terra não está no centro do cosmos, nem que o universo gira em torno do nosso planeta, também já não se fala que estamos sozinhos no universo, mas continuam a insistir que a vida que existe lá fora tem que ser a mesma que conhecemos como predominante aqui, neste minúsculo ponto azul.

A realidade é que os mecanismos, as características mais importantes da vida estão longe de serem descobertas. O que se aponta hoje como características essenciais aos seres vivos têm se mostrado apenas como consequências de mecanismos mais fundamentais, pois existem seres que não se encaixam nestas características. Portanto, explorar possibilidades alternativas de vida é fundamental para a formulação de uma nova teoria geral dos sistemas vivos, para que possamos chegar mais perto de responder o que é realmente a vida.

A Química já avança um pouco neste sentido. Simulações já demonstram ser possível conceber reações químicas que possam sustentar vida envolvendo compostos não carbônicos e ocorrendo em outros meios sem ser a água e sem usar o oxigênio molecular. E é aqui que vem a parte interessante, estes estudos trazem a seguinte questão: se a vida se originou de forma independente em outros planetas, que apresentam ambientes geológicos e químicos diferentes, muito provavelmente eles selecionaram diferentes elementos para o seu metabolismo, assim como aconteceu no nosso planeta, nos ambientes extremos.

Então, em vez de ficar procurando por exoplanetas em zonas habitáveis, tentando encontrar oxigênio e ozônio, ou uma cópia da Terra, os pesquisadores deveriam se concentrar na busca de formas de vida baseadas em características mais fundamentais, ou melhor dizendo, procurar por vida, independente do material que a constitui!

Quando rompermos mais esta barreira geocêntrica, estaremos dando um grande passo para, finalmente, encontrar um ser vivo, e até reconhecê-lo, quando nos depararmos com ele em algum lugar do universo.

– João Sampaio

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