A vida alienígena pode prosperar em CO2 “supercrítico”, ao invés de água
A vida alienígena pode prosperar num tipo exótico de dióxido de carbono, dizem pesquisadores. Este dióxido de carbono “supercrítico”, que tem tanto a característica de líquido quanto de gás, poderia ser a chave para organismos extraterrestres, tanto quanto a água é para biologia na Terra.
Mais conhecido como um efeito estufa que prende o calor, ajudando a aquecer o planeta, o dióxido de carbono é expelido por animais e usado pelas plantas na fotossíntese. Apesar de poder existir como sólido, líquido e gás, quando passa de um ponto crítico de pressão e temperatura combinadas, o dióxido de carbono pode entrar num estado “supercrítico”. Tal fluído supercrítico possui propriedades tanto de líquidos quando de gases. Por exemplo, ele pode dissolver materiais como um líquido o faz, mas também fluir como um gás.
O ponto crítico para o dióxido de carbono é em aproximadamente 31º Celsius e a aproximadamente 73 vezes a pressão atmosférica da Terra ao nível do mar. Isto equivale à uma pressão que é encontrada a quase 800 metros sob a superfície do oceano. Dióxido de carbono supercrítico está cada vez mais sendo usado numa variedade de aplicações, tais como remover a cafeína dos grãos de café e lavagem a seco.
Estranha possibilidade para a vida
Comumente, o dióxido de carbono é considerado um solvente viável para uma gama de reações químicas para a vida, mas as propriedades dos líquidos supercríticos podem diferenciar muito significativamente das versões normais de tais fluídos – por exemplo, enquanto a água normal não é um ácido, a água supercrítica é acídica. Considerando-se como o substancialmente supercrítico dióxido de carbono é, quando comparado com dióxido de carbono normal em termos de propriedades físicas e químicas, os cientistas exploraram se ele poderia ser apropriado para a vida.
“Eu sempre tenho estado interessado na possibilidade da vida exótica e nas adaptações de organismos a diferentes ambientes“, disse o co-autor do estudo, Dirk Schulze-Makuch, um astrobiólogo da Universidade Estadual de Washington, em Pullman. “O CO2 supercrítico muitas vezes é ignorado, assim eu senti que alguém tinha que estudar seu potencial biológico.”
Os pesquisadores notaram que as enzimas podem ser mais estáveis em dióxido de carbono supercrítico do que em água. Além disso, o dióxido de carbono supercrítico torna as enzimas mais específicas sobre as moléculas com as quais elas fazem ligações, levando a menos reações colaterais desnecessárias.
Surpreendentemente, um número de espécies de bactérias são tolerantes ao dióxido de carbono supercrítico. Pesquisas anteriores descobriram que várias espécies de micróbios e suas enzimas são ativas no fluído.
Além disso, os locais exóticos na Terra suportam a ideia de que a vida pode sobreviver em ambientes ricos em dióxido de carbono. Estudos anteriores mostraram que micróbios podem viver próximos aos bolsões de dióxido de carbono líquido, presos sob os oceanos da Terra.
O dióxido de carbono líquido fica mais denso no leito marinho, devido às grandes profundidade, e à medida que o peso dos mares e das rochas por sobre ele aumenta. Quando isto acontece, o líquido pode se tornar supercrítico, e os micróbios podem usar pelo menos algumas das propriedade biologicamente vantajosas deste dióxido de carbono supercrítico, disse Schulze-Makuch. Realmente, pode haver muitos reservatórios de dióxido de carbono supercrítico sob os oceanos, disse ele.
“Seria ótimo poder perfurar as áreas com dióxido de carbono supercrítico na Terra e investigar esses ambientes em detalhes, mas isto é obviamente difícil, devido às limitações práticas e as grandes despesas“, disse Schulze-Makuch.
Foi Vênus um paraíso supercrítico?
Sendo o dióxido de carbono uma molécula muito comum nas atmosferas planetárias, os pesquisadores sugerem que o dióxido de carbono supercrítico possa estar presente em muitos mundos. Isto é especialmente verdadeiro para Vênus, cuja atmosfera é constituída pela maior parte de dióxido de carbono.
Em seu passado, Vênus estava localizado na área habitável da órbita solar, onde a água líquida pode ser encontrada na superfície de um planeta. A vida, como é conhecida atualmente, poderia ter sido desenvolvida antes de Vênus se aquecer o suficiente para perder toda a sua água. Embora Schulze-Makuch disse ser improvável que tal vida pudesse ter mudado da água para o dióxido de carbono supercrítico, talvez algum remanescente orgânico de tal vida, se é que ela existiu, poderia ter sido preservado naquele líquido.
Além do sistema solar, Schulze-Makuch notou que muitos planetas recém encontrados orbitando estrelas distantes são os assim chamados ‘super-Terras’, que são mundos com 10 vezes ou mais a massa da Terra. Sob as fortes forças gravitacionais e pressões atmosféricas maiores desses planetas, o dióxido de carbono supercrítico pode ser muito comum, disse ele.
Embora Schulze -Makuch disse que não há prova da existência de vida que não dependa de água, “há boas razões para levantar a hipótese de que isso ocorra“, disse ele.
Schulze-Makuch e seu colega, Ned Budisa detalharam suas descoberta na edição de setembro do periódico Life.
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Fonte: uk.news.yahoo.com