Misterioso objeto no mar da lua Titã de Saturno intriga cientistas
Cientistas estão investigando um objeto misterioso que apareceu e então sumiu de um lago gigante de Titã, a maior lua de Saturno.
Eles avistaram o objeto numa imagem feita pela sonda Cassini da NASA no ano passado, quando a mesma passava ao redor dessa lua, que está a mais de um bilhão de quilômetros da Terra. As fotos da mesma área não haviam capturado nada anteriormente, nem dias depois.
Pouco mais do que uma mancha branca numa imagem granulada do hemisfério norte de Titã, o avistamento poderia ser um iceberg que se desprendeu da costa do lago, o qual poderia ter causado um efeito de bolhas no líquido, ou ondas por sobre um lago que geralmente é plácido, dizem os cientistas.
Os astrônomos deram o nome da mancha de ‘Ilha Mágica’, até que tenham uma melhor ideia do que eles viram. “Não temos certeza do que seja ainda, porque somente temos uma imagem; mas não é algo que você normalmente veria em Titã“, disse Jason Hofgartner, cientista planetário da Universidade de Cornell, em Nova Iorque. “Não é algo que estava lá permanentemente.”
Titã é um dos lugares mais extraordinários do sistema solar. Sua terra possui uma abundância de dunas de hidrocarbonetos que se elevam acima dos lagos, os quais são alimentados por rios de metano e etano líquidos. A atmosfera é tão densa, e a gravidade tão fraca, que um humano poderia ‘vestir’ uma asa e voar. O ar contém cianeto de hidrogênio, que é letal para nós.
A maior lua de Saturno – há mais de 60 luas menores -é o único lugar conhecido além da Terra que contém líquido estável em sua superfície, bem como chuva caindo de seus céus. Sondas mapearam inúmeros lagos por lá. Os três maiores são grandes o suficiente para serem classificados como mares.
A equipe dos EUA fizeram a curiosa descoberta citada no início do artigo após analisarem imagens de radar do Mar Ligeia, que tem 150 metros de profundidade e se estende centenas de quilômetros por sobre o hemisfério norte de Titã. Entre as fotos tiradas em 2007, 2009 e 2013 estava uma com um estranho objeto claro, a aproximadamente 9,6 km de sua costa montanhosa ao sul.
Com aproximadamente 19 quilômetros de comprimento e 9 de largura, a mancha clara aparece numa imagem datada de 10 de julho de 2013, mas não está nas fotos da mesma região em 26 de julho. Hofgartner disse que a equipe tinha descartado quaisquer erros no equipamento de imagens de radar que poderiam resultar na mancha.
Através de um processo de eliminação, os cientistas diminuíram o número de explicações em potencial para quatro. O objeto poderia ser um ou mais icebergues boiando no mar, ou material em suspensão abaixo da superfície. Mas o radar da sonda Cassini poderia também ter captado um surto de bolhas vindas das profundezas desse mar, ou captado os primeiros sinais de ondas em Titã.
No ano passado, uma revoada da Cassini descobriu que o Mar Ligeia, que é o segundo maior de Titã, era plácido como um espelho. As ondulações do metano e etano líquidos não eram maiores do que 1 mm.
A calmaria profunda pode ser devido ao fato do vento ser muito fraco. Mas isso poderia estar mudando. O trajeto da órbita de Titã e seu eixo inclinado induzem estações que duram por sete anos terrestres. O hemisfério norte está aquecendo levemente agora, à medida que a primavera dá lugar ao verão, que deve chegar em 2017. O clima mais morno traz ventos fortes, e ventos fortes trazem ondas.
“Isso pode ser ondas se manifestando. O Sol está brilhando mais forte e a energia pode estar alimentando os ventos. Tudo que você precisaria é uma brisa leve, por volta de meio metro por segundo“, disse Hofgartner, cujo estudo apareceu na publicação Nature Geoscience.
Mas o vento em Titã pode nunca ser forte o suficiente para causar ondas verdadeiramente impressionantes. “Se você tivesse uma prancha de surf grande o suficiente, você certamente poderia boiar lá, mas não acho que teria as ondas que deseja“, disse Hofgartner. Os mares de hidrocarbonetos, disse ele, são gelados; -180 ºC.
Se as ondas são a causa da curiosa mancha branca, então Cassini as viu antes delas se espalharem amplamente pelo mar. Espera-se que imagens de acompanhamento nos próximos meses ajudem a elucidar o mistério.
“Agora temos a ‘primeira olhada’ tentadora de algum tipo de processo dinâmico em um dos maiores mares de Titã“, disse John Zarnecki, professor de ciência espacial da Universidade Open. “As observações com o radar do Cassini estão próximas do limite de sensibilidade e difíceis de interpretar. Mas elas parecem mesmo mostrar o primeiro sinal de algo ocorrendo no mar. Seriam sólidos flutuando, ou bolhas emergindo das profundidades, ou ação de ondas? Simplesmente não sabemos. Uma coisa que podemos dizer com certeza é a de que temos que retornar a Titã – mas desta vez com uma sonda que flutue no mar, para que possamos ver de perto o que está acontecendo nos mares deste incrível lugar.”
Em março, alguns dos pesquisadores que trabalharam com Hofgartner reportaram o que podem ter sido pequenas ondas em outro mar de Titã, chamado Mar Punga. Os instrumentos a bordo da Cassini descobriram que a luz solar refletida do mar era mais brilhante do que se esperava em alguns locais, um efeito que poderia ser causado por ondas batendo na costa.
A NASA considerou a ideia de enviar um bote para velejar nos mares de Titã, mas a proposta perdeu para uma missão a Marte. Ainda há esperanças de exploração dessa lua com duas outras missões da NASA. Uma enviaria um balão até Titã e liberaria um drone para mapear sua superfície. A outra almeja mergulhar um submarino no maior mar de Titã, o Mar Kraken, de 30o metros de profundidade.
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Fonte: The Guardian
Colaboração: Pastor Murdock, Osnir Carlos Stremel Junior, Snor, João Brito