Procurando por ET nos lugares errados
O seguinte artigo foi publicado por Patrick Di Justo, no site do The New Yorker, e ilustra a situação atual da comunidade científica no que diz respeito a procura por vida extraterrestre em outros planetas fora de nosso sistema solar, conhecidos como exoplanetas:
Seria possível estarmos procurando por vida no espaço de forma errada? Após os primeiros planetas fora de nosso sistema solar terem sido detectados, em 1992, a procura por sinais de vida se tornaram mais sistemáticos do que nunca, e mais exoplanetas têm sido encontrados a passos vertiginosos. A contagem atual confirmada está próxima de mil. Mas cientistas estão repensando algumas das metas por detrás da procura por exoplanetas similares à Terra, particularmente a procura das assim chamadas “Super-Terras”, que são similares ao nosso planeta, mas com uma massa muito maior. Os cientistas também começaram a questionar o foco do conceito de “zona habitável”; a região onde os planetas recebem energia de sua estrela na medida certa para manterem as temperaturas médias entre o congelamento e a fervura da água, a mantendo no estado líquido. Encontrar tais planetas tem sido o ‘Cálice Sagrado’ dos estudos de exoplanetas, parcialmente porque a zona é tão estreita. De oito planetas em nosso sistema solar, a Terra é o único na zona habitável do Sol [pelo menos habitável para nós humanos].
Essa definição extremamente estreita está agora sendo questionada. Por exemplo, como Sara Seager, uma professora de física e ciência planetária do MIT, falou, “Se suas atmosferas fossem diferentes o suficiente para permitirem líquido em suas superfícies“, então sob as circunstâncias certas, “Vênus e Marte poderiam ambos ser habitáveis“. A atmosfera de um planeta, e o efeito estufa natural que ele cria (ou previne), pode manter sua temperatura, aquecendo os mundos mais distantes e mantendo os mais próximos mais frios. Se os alienígenas olhassem para o nosso sistema solar com o mesmo tipo de tecnologia que temos usado, e usassem a mesma definição que usamos, eles poderiam concluir que há três planetas habitáveis em nosso sistema solar, ao invés de um.
A questão mais abrangente, quando se considera a habitabilidade é: “habitabilidade por quem?”
O conceito de zonas habitáveis ao redor de estrelas está associado à velha definição de “Jornada nas Estrelas” da “vida tal como conhecemos”. O conceito dita que a vida em outros lugares seria baseada nos mesmos químicos da Terra, nas mesmas condições, resultando no mesmo tipo de biosfera. Em um relatório de 2007 (The Limits of Organic Life in Planetary Systems), a Academia Nacional de Ciências (EUA) mostrou sua tendenciosa ideia, relacionando os quatro itens que a vida ‘necessita’: ambiente líquido, temperaturas apropriadas para que moléculas complexas se formem, uma fonte de energia e um ambiente que suporte a evolução Darwiniana.
David Grinspoon, o diretor de Baruch S. Blumberg de Astrobiologia da Biblioteca do Congresso (EUA) e autor do livro Lonely Planets: The Natural Philosophy of Alien Life (Planetas Solitários: A Filosofia Natural da Vida Alienígena – trad. livre n3m3), reconhece as limitações dessa lista.
“Estamos procurando por algo que realmente não podemos definir, porque somente temos um exemplo de uma biosfera, nossa própria“, disse ele. “Na ciência, você não pode ser sistemático sobre algo quando você somente possui um exemplo. Temos que permanecer humildes e entender que não conhecemos por completo aquilo que estamos procurando.”
Esta é a razão parcial porque John Johnson, um professor de astronomia da Universidade de Harvard tem uma visão reservada do conceito de zonas habitáveis. A frase, ele disse, “não tem qualquer peso no potencial de que um planeta seja habitável“. Johnson apontou que talvez existam duas dezenas de razões distintas para a vida ter surgido em nosso planeta.
“Ela ocorreu devido as placas tectônicas. Ela ocorreu porque há uma Lua. Ela ocorreu porque Júpiter está onde está. Ela ocorreu porque há uma mistura precisa de elementos químicos entregues ao nosso planeta por mecanismos que não compreendemos. Ela ocorreu porque o nosso planeta é tão úmido.” Já que estamos somente seguros a respeito de uma emergência de vida – aquela que aconteceu aqui – não podemos ter certeza que essas condições particulares sejam requerimentos invioláveis. Em outras palavras, a vida aconteceu desta forma na Terra, mas isto não significa que não possa acontecer de outra forma em outros mundos.
Até mesmo o termo “Super Terra” tem sido colocado sob investigação. O primeiro artigo de notícias que o utilizou, em 2004, descreveu um exoplaneta recém descoberto que tinha quatorze vezes a massa da Terra. Isso foi especialmente empolgante porque, até então, os únicos exoplanetas que tinham sido descobertos eram gigantes gasosos do tamanho de Júpiter, ou maiores. Pensava-se que uma “Super Terra” seria terrestre: uma rocha como a nossa, com o potencial para uma atmosfera razoável, água na superfície e, possivelmente, vida. Mas, quase que imediatamente, a definição começou a mudar à medida que nossa compreensão sobre os planetas aumentou.
Um dos primeiros documentos científicos escritos sobre o assunto, em 2006, definiu tais planetas como tendo “massas mensuráveis de menos do que dez massas da Terra“. Mais recentemente, um documento de 2011, definiu uma Super Terra como um planeta que tivesse até duas vezes o raio da Terra – o que, se o planeta tivesse a mesma densidade do nosso, colocaria essa Super Terra como tendo oito vezes a massa de nosso planeta. Recentemente, dados da missão Kepler indicaram que outras Terras podem até mesmo ser mais raras do que acreditamos. Poderíamos ter que procurar por “vida tal como não a conhecermos”, porque esta poderia ser o tipo mais comum lá fora.
De acordo com Grinspoon, a chave de reconhecer a vida irreconhecível poderia ser procurar “por anomalias químicas – químicos que não deveriam estar lá – porque você tem que calcular que a vida está perturbando seu meio ambiente de alguma forma, reorganizando a matéria, e ela sempre deixará algum traço químico de si mesma“. O melhor exemplo disso é a Terra: o oxigênio e o metano em nossa atmosfera estão aqui somente devido a vida, e logo desapareceriam se a vida sumisse. “Alienígenas que estivessem olhando para nós como um exoplaneta, com instrumentos um pouco mais poderosos do que os nossos, olhariam para a atmosfera da Terra e diriam, ‘Puxa vida, o que está acontecendo com este planeta? Algo está ativamente perturbando esta atmosfera’ .”
Grinspoon ainda disse que a evolução tem uma qualidade convergente: quando lidamos com restrições físicas da vida – como mover nutrientes de uma parte de um organismo para outra, por exemplo – a vida na Terra tem evoluído os mesmos tipos de soluções várias vezes repetitivamente. Ele está confiante que estes mesmos projetos básicos – como estrutura celular, vasos fractais, e visão em estéreo – poderiam ser encontrados em outras formas de vida, seja lá quão estranhas sejam, já que estas formas poderiam evoluir soluções similares para problemas similares.
Em julho, Seager presidiu um comitê da NASA que esperava desenvolver uma missão para lançar ainda outra sonda espacial, a fim de identificar “mundos habitáveis” ao redor de outras estrelas. Assim, mesmo à medida que debatemos o que a zona habitável de um planeta possa ser, claramente a procura por eles continuará – embora John Johnson esteja preocupado que tais missões poderiam levar à ‘fatiga do planeta habitável’, mesmo aos que mais íntimos com a ciência dentro do público em geral.
“Um dia, iremos encontrar um planeta com evidência de vida nele“, disse ele. “E eu espero que quando fizermos esta liberação de imprensa, o público não esteja desligado de nós.”
-Patrick Di Justo
Quem não lembra quando cientistas nem sequer ousavam falar de vida extraterrestre? Isso não faz muito tempo.
As coisas mudam, e ultimamente cada vez mais rapidamente. Quem sabe se no ano que vem não teremos alguma agradável surpresa quanto a vida extraterrestre… isto é, se não nos acabarmos antes de então.
n3m3
Fonte do artigo traduzido: The New Yorquer